domingo, 28 de setembro de 2008

SINAIS DE LIDERANÇA

SINAIS DE LIDERANÇA

A falta de líderes e de liderança na governação de países e na administração de empresas empurra-nos para uma crise económica e financeira como a que estamos a atravessar neste momento.
Crise que se vive essencialmente nos Estados Unidos com repercussões graves no continente Europeu.
Então o que se pretende dos líderes? Carisma? Talvez não dado que as palavras se mostram impotentes para materializar uma definição adequada.
Nas empresas, o papel do líder é, bem sabemos, fundamental, mas o fascínio que o líder exerce sobre as pessoas na sua esfera de influência é talvez a característica mais dispensável.
Em tempos de enorme incerteza e turbulência, exigem-se líderes pragmáticos, que apontem o caminho, saibam comunicar a sua visão e motivar a equipa em torno desse objectivo comum.
Essencialmente as qualidades de um líder estão na influência exercida sobre um grupo para que este, voluntariamente, abrace a visão partilhada pelo poder.
Outro sinal dos tempos é a noção de que a liderança não é um resultado, mas um processo.
Um líder é uma pessoa que está em permanente construção, em permanente aprendizagem, que muda o seu comportamento consoante as exigências dos “liderados” e das circunstâncias.
Ser liderar é “ transformar gente comum numa equipa admirável “, diz Pires de Lima, porque como se lê mutatis mutandis em Camões “um fraco rei faz fraca a forte gente”. Afinal, mais do que nascendo iluminado pela qualidade transcendental do carisma, um líder não é mais do que “uma pessoa comum com habilidade para inspirar outros a agir”.

JC

terça-feira, 23 de setembro de 2008

DESEMPREGO





DESEMPREGO

O desemprego é um dos flagelos da sociedade em que vivemos.
Dada a minha actividade profissional, na área dos recursos humanos, constato muitas vezes o desespero em que as pessoas vivem.
A praga do desemprego arrasta consigo para um precipício sem fundo muitas famílias em Portugal.
Por vezes aparecem, na empresa onde trabalho, pessoas a pedir emprego. Sempre as atendo. Mesmo, não tendo disponibilidade na altura em que se vêm inscrever, marco outro dia para passarem, para com elas poder conversar e aferir da possibilidade de serem integradas numa das empresas do grupo, naquela fase ou noutra de maior labor.
Sempre tive por hábito, quando necessitamos de alguém, consultar as fichas de inscrição que temos em arquivo. Faço uma primeira triagem das pessoas que acho que estão mais aptas para ocupar o lugar em causa e, depois, paço à fase de entrevistas.
Esta é para mim a parte mais complicada, pois durante a entrevista há pessoas que contam a situação precária que estão a viver, a qual faz arrepiar qualquer ser humano.
A “ginástica” financeira que fazem para sobreviver, alimentar, vestir e dar formação aos filhos com os parcos subsídios que recebem é impressionante. Creio que chegam muitas vezes a passar fome.
Numa situação destas ainda se pode ir aguentando o barco, o pior é quando surge a doença. Os medicamentos são caros, e nestes casos, os governos deviam aquilatar das possibilidades de cada família e criar condições para que possam viver e tratar-se com o mínimo de dignidade.
Não sou daqueles que acha que o desemprego diminuiu, bem pelo contrário tem aumentado. Também acho que não é com subsídios atribuídos ao desempregado que se resolvem as situações. Acho sim que as empresas deviam ser apoiadas de forma a criar mais postos de trabalho, isentando-as de alguns impostos e reduzindo outros.
Talvez seja utópico da minha parte mas, acredito, que num futuro próximo tal possa acontecer e possamos viver numa sociedade mais justa em que os mais ricos possam continuar a ser ricos e a pobreza seja eliminada, caminhando assim para uma classe média maior.
Será que esta é uma visão utópica? Deixo a questão.
JC

sábado, 20 de setembro de 2008

DORIVAL CAYMMI

DORIVAL CAYMMI

Numa das anteriores revistas da “Sábado”, um artigo de Ricardo Marques, faz uma homenagem ao Grandioso Dorival Caymmi , segundo o autor, o ídolo dos pais da bossa nova.
A descrição que o autor nos faz, deixou-me impressionado e com vontade de o partilhar convosco:

Cantou o mar, a Bahia, o Brasil e os brasileiros. Ensinou Cármen Miranda a dançar e esteve casado 68 anos com Stella, que ainda rapariga, viu catar na rádio. O ídolo dos pais da bossa nova morreu “baianamente”.

Trazia o mar no coração, como disse naquele dia. Aos 90 anos, já não precisava de sentir o cheiro da água salgada na areia para se sentir bem. As imagens passavam lentamente na cabeça daquele homem de bigode e cabelos brancos. Ele, em criança, a mergulhar nas águas cristalinas de Itapuã, em Salvador da Bahia. Ele, jovem músico, a escrever versos e mais versos, tantos que chegaram para 20 discos, sobre praias e pescadores. Ele, aos 90 anos, a descansar na varanda, em Perequi vila de três mil habitantes no interior de Minas Gerais, onde a mulher nasceu. A neta sentada à sua frente, com um gravador entre os dois. “Como é que o senhor se sente vivendo longe do mar”?, perguntou ela. “A presença do mar, a presença das coisas físicas que a gente tem não saem da memória, e a memória vê”, respondeu Dorival Caymmi.
Segurava moedas antigas nas mãos, para se distrair e afrouxar os nervos. Às vezes, também gostava de ficar apenas ali, naquela espécie de casa de férias a que sentia prazer em regressar, apenas a “olhar a natureza”. “Ela nos dá momentos de rara felicidade”. Nasceu baiano, a 30 de Abril de 1914, filho de um funcionário público e de uma domestica. O pai era também músico amador, tocava bandolim, piano e violão, e a mãe levava os dias inteiros a cantar para os quatro filhos: Dorival, Deraldo, Dina e Dinair. Aos 13 anos,, cantava no coro da Igreja e aos 16, sem nunca ter tido aulas, escreveu no Sertão, a primeira das composições. A Bahia era demasiado pequena para Dorival, que aos 22 anos já tinha um programa de rádio e um samba premiado: A Bahia também dá valeu-lhe um abajur cor-de-rosa.
Tinha 23 anos quando embarcou num ita(navio que ligava o Norte e o Sul) rumo ao Rio de Janeiro. Partiu para o mar com bilhete de ida, já que, embora permanecendo baiano e voltando a casa de tempos a tempos, nunca mais morou na Bahia. Com a ajuda de um primo, ficou numa pensão de estudantes, publicou desenhos nos jornais e cantou os seus temas nas rádios. Um ano depois, a sua vida mudou.
PRIMEIRO FOI UMA rapariga de 17 anos, no meio de outros jovens talentos, para lá do vidro do estúdio da Rádio Nacional. Foi um domingo. “Foi amor à primeira vista. Eu não sabia que estava amando.”Nesse dia Adelaide Tostes(Stella Maris no meio artístico)cantou Último Desejo.
Casaram-se um ano depois, viveram juntos 68 anos, tiveram três filhos – Dinair, Dorival e Danilo, todos nomes grandes da música brasileira -, sete netos e quatro bisnetos. “Um amor sereno, inexplicável”, disse à neta Stella Caymmi, na varanda de casa da pacata Perequi..
Mas, em 1939, uma outra mulher, portuguesa de Marco de Canaveses, encarregar-se-ia de o tornar irremediavelmente famoso. No filme Banana da Terra, Cármen Miranda, Vestida a rigor e com a ajuda de Dorival, que a guiava atrás da Câmaras, interpretou O que é que a Baiana Tem?. Caymmi tornou-se famoso.”O mais baiano dos grandes nomes da música popular brasileira”, como lhe chamou o jornal O Globo, nunca mais parou de escrever.
A família instalou-se num apartamento de Copacabana, a três quarteirões da praia, numa rua cheia de árvores nos anos 50, os futuros grandes nomes da bossa nova viam em Dorival uma referência. João Gilberto gravou músicas suas e Tom Jobim elogiava o traço moderno do seu trabalho. Na década de 70, compôs Modinha para Gabriela baseado no livro de Gabriela, Cravo e Canela, do seu amigo Jorge Amado.
Dorival nunca aprendeu a nadar, mas nunca esqueceu o mar da Bhia. Morreu a 16 de Agosto, dez dias depois de a mulher ter entrado em coma. No do funeral, o filho mais velho declamou os últimos versos de João Valentão, música inspirada num pescador e que demorou nove anos a escrever.”assim adormece esse homem/Que nunca precisa dormir pra sonhar/Porque não há sonho mais lindo do que sua terra.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

EDUCAÇÃO ...



EDUCAÇÃO

Estamos no início de mais um ano lectivo. Como todos temos visto o primeiro-ministro e mais vinte e três ministros e secretários de estado, deste governo, não se cansaram, no final da passada semana, de distribuir diplomas aos cinquenta mil alunos que concluíram o 12º Ano no ano lectivo anterior. Os melhores receberam ainda um cheque de 500,00 euros. Eu pergunto. Porquê nesta altura? Não será esta mais uma estratégia de marketing - “vender” a imagem de uma boa política de educação?
Creio que sim. Mas, mal de um Pais ou governo quando precisam de se munir destes artifícios para fazer passar uma mensagem que, nem de longe nem de perto, corresponde à verdade.
Todos sabemos que os exames do 12º Ano foram facilitados, comparando-os a anos anteriores, isto para já não falar nos do 9º Ano. E, ao serem utilizados estes critérios é evidente que o “sucesso” é garantido. Logo, se conclui, que o maior número de aprovações não é consequência de uma melhor política educacional, antes dum maior facilitismo.
Para terminar, quero deixar à consideração de todos uma afirmação da senhora ministra da educação que diz, e passo a citar ”O 12º Ano pode não ser obrigatório para concluir a escolaridade obrigatória”. Segundo a senhora ministra, as escolas estão a dar uma resposta tão boa que nem é necessário a sua conclusão para que se possa ter a escolaridade completa, apenas bastando aos alunos frequentá-lo sem carácter de obrigatoriedade.
Eu sempre ouvi dizer que o saber não ocupa lugar, como tal para nos tornarmos um país mais culto, mais evoluídoe com maior ambição, quanto maior e melhor for a escolaridade mais hipóteses há de nos tornarmos, dentro de alguns anos, num país ainda mais desenvolvido e com melhores condições de vida.

JC

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

TUDO O QUE O VENTO NÃO LEVA

Tudo o que o vento não leva
Ao ler um artigo de José Eduardo Agualusa, autor por quem tenho profunda admiração, na revista Pública do dia 7 do corrente mês de Setembro, não resisti a transcrevê-lo para aqui o partilhar convosco.

Vejo na televisão imagens de Nova Orleães batida pelos ventos. Três rapazes abrem os braços enquanto tentam avançar sobre o asfalto molhado de encontro às fortes rajadas – quase voam. Voarão?
Vem-me um desejo de estar lá, com eles, também eu jovem e irresponsável, abraçando a tempestade.
Sempre gostei de temporais. Nem conheço nada mais belo e empolgante do que uma tempestade tropical, com aquela luz de princípio de mundo, chuva grossa e trovoada – excepto certas mulheres.
Sempre me pareceu natural baptizar os furacões com nomes de mulheres. Era assim antes que essa doença infantil do pensamento ocidental, o “politicamente correcto”, tivesse começado a impor as suas regras absurdas a toda a gente, inclusive aos meteorologistas, que são o que há entre os cientistas de mais parecido com os poetas.
Diz-se: as tempestades. Deveria dizer-se “as furacoas”. Aliás, como a mar (a língua francesa revelou-se neste ponto mais clarividente”. Chamar Gustavo a uma furacoa parece-me uma falta de respeito.
Certa ocasião, numa feira do livro, uma jovem leitora veio ter comigo para me dizer que achava as minhas personagens femininas bastante convincentes.
“Você merecia ser mulher”, acrescentou. Foi o maior elogio que recebi.
Contudo, não me iludo. Tenho perfeita consciência das minhas limitações.
Nenhum homem merece ser mulher. Compreendo a dedicação dos travestis, mas acho-os figuras um pouco patéticas, como um pardal que pretendesse passar por águia.
Portanto, gosto de tempestades, e gosto de mulheres que se parecem com tempestades. Diz-se de alguém quando desmaia que perdeu os sentidos.
Tempestades e mulheres que se parecem com tempestades produzem em mim um efeito oposto: devolve-me sentidos. É como abrir os olhos, tendo-os já abertos, e acordar nalgum lugar ainda mais concreto, mais iluminado, mais colorido, do que a realidade. Mais assustador também, é evidente. As tempestades são perigosas. As mulheres que se parecem com tempestades são igualmente perigosas.
É o perigo, suponho, que nos acende os sentidos. Nunca nos sentimos tão vivos como quando temos que enfrentar a morte. Isso explica a perversa nostalgia que os antigos combatentes cultivam relativamente aos dias terríveis que passaram na guerra. Juntam-se uma vez por ano, não para evocar o que sofreram, mas para se recordarem de como estavam vivos. Depois a morte afastou-se – ao menos a morte na sua versão espectáculo, com o crepitar das metralhadoras e o clarão das explosões - , a morte afastou-se, pois, e a vida perdeu a grandeza e o sabor. Felizmente somos mortais. Nem há pior castigo do que o grande tédio da imortalidade. Pense-se no exemplo de Ahasverus, o judeu errante, que escarneceu de Jesus Cristo enquanto este carregava a cruz, e foi condenado a vagar pelo mundo até ao regresso deste.
Três rapazes abrem os braços enquanto tentam avançar sobre o asfalto molhado de encontro ao coração da tempestade. Daqui a muitos anos hão-de relembrar aquele instante: “Éramos loucos!” – dirá o primeiro. “Sim” – acrescentará o segundo – “e como isso era bom!” O terceiro permanecerá em silêncio. Um sorriso nos lábios. Naquele dia quase voaram.
Estendido na cama de um hospital um homem muito velho recorda as mulheres que passaram pela sua vida. Esqueceu o nome de algumas, não consegue reconstruir o rosto de outras, e tudo isso lhe parece agora imperdoável. Foi feliz com várias. Feliz, distraidamente, como são felizes os bois enquanto pastam. Por alguns instantes incomoda-o a ideia de que a felicidade só se consegue alcançar por um esforço de desatenção. Descobre depois, com crescente sobressalto, que a mulher de quem se recorda melhor foi uma que veio de longe, que arrasou tudo à sua passagem, e depois desapareceu. A mulher de quem se recorda melhor não lhe trouxe a bonança, muito pelo contrário – trouxe-lhe a tempestade. O velho fecha os olhos e também ele sorri. Foi um tempo em que quase voou.

domingo, 7 de setembro de 2008

ELEIÇÕES EM ANGOLA


Na passada sexta-feira houve eleições em Angola, ex-colónia portuguesa que adquiriu a independência após o 25 de Abril de 1974.
Independência discutível, da forma como foi levada a cabo, mas à qual tinha direito.
Não foi sobre a independência deste país que resolvi fazer esta reflexão, provavelmente ficará para uma próxima vez. Antes, como atrás referi, a reflexão é sobre as eleições que realizaram. Um País onde já não se realizavam eleições legislativas há 16 anos e que serão um teste para as presidenciais do próximo ano. Essas sim, muito mais importantes que as legislativas.
Pelo que ouvi e li não correram muito bem, pois houve assembleias de voto que nem sequer chegaram a abrir no dia das eleições. Abriram sim, mas no dia seguinte...
As forças políticas em “confronto”, eram várias, mas as mais importantes eram, e são, o MPLA e a UNITA.
É evidente que com o que se passou, a UNITA já vem pedir a repetição das eleições em Luanda. Provavelmente com razão, pois não abrindo todas as mesas de voto no mesmo dia e à mesma hora, a verdade eleitoral não está garantida. Em minha opinião, o povo angolano deve ir às urnas novamente para repor a verdade dos resultados finais.
Um País que viveu durante muitos anos sob um regime totalitário, e que ultimamente vem dando os primeiros passos na democracia, deve procurar que haja a maior seriedade num acto destes para que não restem dúvidas, quer para os partidos, quer para o povo, quer para o mundo da verdadeira democracia que dentro de algum tempo, assim espero, se possa viver neste País.
Angola tem tudo para vir a ser um grande País, onde todos possam viver com qualidade. É preciso dar tempo. Mas eu acredito.

JC