quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PENSAMENTOS





Haverá algo mais verdadeiro do que cantar sem música?


CAMÕES

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

ESTADOS DE ALMA



ESTADOS DE ALMA


A tristeza e a alegria cruzam-se no semáforo do quotidiano. Não se opõem, namoriscam e até se apreciam mutuamente.

A alegria só o é verdadeiramente se consciente, porque a alegria não se confunde com a euforia. A tristeza só o é verdadeiramente se serena, porque a tristeza não se confunde com o desgosto.

Estar na alegria não é necessariamente ser alegre. Ser triste é coisa diferente de estar triste. A alegria e a tristeza são referências estáveis no mar da intranquilidade do nosso espírito. Não são meros estados de humor ou aditivos anímicos adquiridos no mercado das emoções.

A alegria e a tristeza unem o princípio e o fim das nossas vidas. Por isso, ambas estão associadas ao dever. Ao dever de viver, de dar vida e de entregar a vida.

A alegria não significa necessariamente felicidade, como a tristeza não transmite obrigatoriamente infelicidade. Pode-se ser feliz na tristeza e infeliz na alegria.

A alegria e a tristeza são expressões do afecto mais profundo que alimenta e estabiliza o amor. Pode-se amar na tristeza e desamar na alegria, embora se pense exactamente o contrário.

A alegria só existe porque há tristeza, senão seria um estado e alma neutro. A tristeza sem alegria seria uma espécie de pão ázimo onde faltaria o fermento que dá expressão à vida.

A alegria e a tristeza não são momentos. São estados de alma. Não se limitam a coabitar na mente. Aconchegam-se no coração e vagueiam pelo sangue.

Se a alegria é mais partilhada porque mais exteriorizada, a tristeza é mais solitária porque mais interiorizada.

Portugal, expressão de uma pátria e de um povo, é na sua soma uma expressão de alegria contida e tristeza afável. O fado e o canto exprimem a portugalidade deste modo de ser na duplicidade desta unidade sentimental.

Excerto do livro “Do lado de cá ao deus-dará”
de António Bagão Félix
Fotografia de
Mark Freedom

JC




terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

COISAS DE ADOLESCENTES


COISAS DE ADOLESCENTES


Há alguns dias atrás estava a ver o telejornal e fui surpreendido com a notícia de uma adolescente inglesa, de 15 anos, que deu à luz um filho e o pai seria também um adolescente de 13 anos.

Volvidos dois dias ouvi uma referência à mesma notícia, no telejornal da mesma estação televisiva em que mais dois adolescentes, um de 16 e outro de 14 anos diziam que também tinham tido relações sexuais com a referida adolescente e também eles poderiam ser os pais do bebé.

A criança de 13 anos predispõe-se e quer fazer os testes de ADN para provar a paternidade, mas o que mais me choca é a imprensa, escrita e falada oferecer “fortunas” para conseguir depoimentos exclusivos desta criança. Mais, a própria família está dividida quanto aos valores, porque uns acham que ele deveria aceitar, outros, pelo contrário, acham que ele se deve manter calado e viver duma forma discreta.

Depois do que ouvi; pergunto.

Para onde caminha a sociedade em que vivemos? Quais os valores que perfilhamos e pelos quais orientamos a nossa vida? Que transmitimos nós aos nossos filhos para que eles trilhem estes caminhos?

Espero, sinceramente, que tudo isto mude rapidamente e que não percamos os valores da sociedade nem da família.


JC

domingo, 15 de fevereiro de 2009


O ruído urbano pode levar aves fiéis ao adultério.
O diamante mandarim, monogâmico, localiza o parceiro graças aos pios, que hoje são abafados pela poluição sonora.


Nem todos se sabem adaptar

Apesar de os melros e os chains-reais parecerem capazes de tirar partido do canto flexível para enfrentar a cocofonia urbana, nem todas as aves possuem essa capacidade de se adaptarem aos ruídos fortes e graves. As grandes perdedoras são as que dependem em muito, ou em exclusivo, dos cantos em surdina, e que são fisicamente incapazes de atingirem frequências mais altas. O papa-figos, o cuco, a felosa e até o muito abundante pardal comum incluem-se nesta categoria. Antigamente, estes pardais eram os visitantes mais assíduos dos parques e jardins britânicos, mas a sua população está em queda livre, uma tendência que também se observa no continente europeu. “ Não temos uma explicação concreta, mas o ruído pode ser um factor”, diz Hans Slabbekoorn. “As frequências baixas são uma componente importante do canto dos pardais comuns”.

O ruído forte pode ainda ter efeitos inesperados, como levar as aves mais fiéis ao adultério. O diamante mandarim, por exemplo, mantem uma relação monogâmica graças a uma série e pios que lhe permitem reconhecer e localizar o seu parceiro. John Swaddle, do Colégio William and Mary , em Williamsburg, Estados Unidos, descobriu que um ambiente ruidoso impedia as fêmeas de ouvir esses pios. Este fenómeno enfraquece os laços entre os parceiros, em geral muito fortes, e incita as fêmeas a trocar os seus eleitos por desconhecidos.

Mesmo entre as espécies que parecem ter-se adaptado à poluição sonora, há sinais de que as aves fazem o que podem e que a flexibilidade tem um preço. Os pintarroxos comuns despendem muita energia a tentar cantar mais alto, para abafar os ruídos da cidade, o que encurta as suas melodias. Como as fêmeas desta espécie preferem parceiros capazes de cantar durante muito tempo, os machos que compensam o ambiente sonoro poderão ter menos hipóteses de acasalar. O chapim-real tende a fazer admirar o seu registo vocal de frequência baixa no começo da época de reprodução: Mas essas notas requerem mais esforço, comenta Slabbekoorn. Constituem um bom indicador da potência do cantor e do seu potencial de acasalamento Esses sons melodiosos podem, todavia, perder-se entre a barulheira urbana e os machos que vivem nas cidades são forçados a encontrar um compromisso entre causar boa impressão e fazerem-se simplesmente ouvir.

O facto de os pássaros urbanos elaborarem estratégias destinadas a fazer face ao ruído permite entender a amplitude do problema. “ Há vários factores que influenciam a capacidade das aves de acasalar nas cidades, mas o ruído é o mais ignorado de todos”, observa Slabbekoorn Resta saber em que medida o ruído vai alterar o coro matinal que toda a gente já ouviu pelo menos uma vez na vida.
EXCERTOS REVISTA
NEW SCIENTIST LONDRES
AUTOR ED YONG
DE MAR./08

JC

domingo, 8 de fevereiro de 2009

CIDADES RUÍDOS (3)

CIDADES RUÍDOS (3)
PÁSSAROS NÃO CONSEGUEM FAZER-SE OUVIR

PRIMEIROS SONS

DIAMANTE MANDARIM

O mundo das crias do diamante mandarim constitui uma etapa indispensável da aprendizagem do canto, um pouco como as onomatopeias nas crianças.

Até agora, os biólogos consideravam que as aves jovens pipilavam para aprenderem a controlar os músculos que, mais tarde, lhes permitiram emitir os sons do canto adulto.

Pensavam que a composição desses sons de canto dependia de outros mecanismos. Mas alguns estudos de neurologia realizados sobre o cérebro dessas aves indicam que o pipilar tem, sobretudo, uma função de exploração acústica, necessária para a produção de um canto coerente, e que a mesma zona cerebral controla, ao mesmo tempo, esses números e o canto, não o trabalho muscular, escreve a NEW SCIENTIST.


Comportamento flexível


“Essa maleabilidade dá-lhe uma grande capacidade de adaptação e condições diversas”, afirma Slabbekoorn. A intensidade dos ruídos pode variar consideravelmente de floresta para floresta e as aves que vivem perto de zonas barulhentas, como cascatas ou cursos de água, também optam por uma frequência mais alta, como as suas congéneres dos meios urbanos. A flexibilidade do seu canto permitiu-lhes suportar as condições sonoras artificiais causadas pelo ser humano.

Essa elasticidade de comportamento diferencia as espécies que se adaptam à poluição sonora das que lutam para sobreviver nela. O aumento recente dos ruídos urbanos significa que a maioria das estratégias vocais utilizadas pelos pássaros das cidades resulta, sem dúvida, e reacções apreendidas e não da evolução. É provável, contudo, que se verifique uma mudança a longo prazo, devido ao papel que os cantos desempenham para a sobrevivência e a reprodução destes animais.

Os cantos são, sobretudo, um aspecto característico da parada sexual do macho, que leva as fêmeas a escolhê-lo e aumenta as suas possibilidades de se reproduzir. Se passarem a ver na capacidade na capacidade de cantar mais alto do que os barulhos circundantes um indicador de qualidade, as fêmeas preferirão acasalar com os machos que conseguem fazê-lo e essa particularidade será incentivada pela selecção sexual Os indivíduos capazes de distinguir os cantos dos outros pássaros por entre os ruídos urbanos também beneficiam de uma vantagem selectiva, o que acabará por aumentar a sua percentagem entre a população.

Se as suas capacidades de cantar e ouvir se tornarem suficientemente diferentes das dos pássaros dos campos, os pássaros das cidades sentir-se-ão menos atraídos pelas melodias daqueles e talvez cheguem ao ponto de deixarem de os considerar congéneres.
Estas mudanças poderão traduzir-se numa distinção genética entre populações urbanas e rurais. Poderá acontecer que grupos diferentes da mesma espécie venham a adoptar estratégias divergentes para se adaptarem aos ruídos urbanos, provocando uma separação no seio de uma população que vive em zona próximas [especiação simpátrica] “Seria fascinante observar esse tipo de fenómeno”, diz Fuller, entusiasmado.

Não se trata de mera especulação. Alguns ornitólogos pensam que o melro europeu já se dividiu em subespécies, rural e urbana, que se distinguem pela forma do corpo e pelos comportamentos Slabbekoorn e o seu colega Erwin Ripmeester estão a estudar a forma como os ruídos das cidades acentuam essa separação. Utilizam gravações para determinar se os melros urbanos respondem mais significativamente aos cantos dos indivíduos das cidades do que aos dos do campo. Também recolheram amostras de sangue das duas populações e tencionam investigar as diferenças genéticas. “Verificámos, sem dúvida, alguns elementos de especiação. Mas talvez já não estejamos cá para ver o resultado final”, afirma Slabbekoorn.

EXCERTOS REVISTA
NEW SCIENTIST LONDRES
AUTOR ED YONG
DE MAR./08

JC

domingo, 1 de fevereiro de 2009

OS PÁSSAROS NÃO CONSEGUEM FAZER-SE OUVIR - RUÍDOS CIDADES - 2




CIDADES RUÍDOS (2)
PÁSSAROS NÃO CONSEGUEM FAZER-SE OUVIR

INVASÃO – MAIS PRAGAS NOS JARDINS


Algumas espécies de aves comuns dos sub-bosques e das sebes podem ser frequentemente encontradas nas cidades, salienta o diário londrino THE DAILY TELEGRAPH.
Gaios, pegas e chapins rabi longos vêm procurar refugo nos jardins e parques urbanos, porque as valas, encostas e bosquetes que habitualmente lhes serviam de abrigo e de fonte de alimentos estão a desaparecer. Os dados recolhidos ao longo dos últimos 30 anos pela real Sociedade de Protecção de Aves indicam que o número de pegas em jardins aumentou 146 por cento e das rolas turcas 450 por cento.

Rouxinóis cantam cada vez ais alto

Resta saber se cantar à noite será o meio mais eficaz de lutar contra a poluição sonora. Esta não é, de facto, a unia opção. Quando não cantam à noite, os rouxinóis fazem algo que parece entrar em contradição com a sua melodia delicada: cantam mais alto! Quando gravou o canto dos rouxinóis entre as 17 e as 22 horas, Henrik Brumm, da Universidade de Saint Andrew, no Reino Unido, verificou que o nível sonoro das aves que viviam em Berlim era de 14 decibéis acústicos ( dB (A)) mais alto do que o canto das suas semelhantes das florestas e atingia mais de 95 dB (A), uma potência suficientemente elevada para levar um ser humano a tapar os ouvidos (o limiar do risco auditivo do homem é de 85 dB(A) e o limiar para integridade do ouvido humano situa-se nos 120 dB (A)). A intensidade do canto dos pássaros é proporcional ao nível do fundo sonoro cantam especialmente alto de manhã.

Estas alterações da hora ou da intensidade do canto representam uma solução bastante evidente para o problema mas algumas aves canoras elaboraram estratégias mais subtis.
O nível sonoro urbano é mais elevado nas frequências baixas (entre 1 e 3 quilohertz).Ao evitarem estas frequências baixas, os pássaros conseguem tornar mais audível o seu canto. Os melros, tentilhões cantores e pintarroxos optaram por esta solução, mas o especialista nesta matéria a ser o chapim-real.

Há cinco anos que Hans Slabbrkoorn, da Universidade de Leyden , na Holanda, estuda o modo como estas aves se adaptam aos ruídos urbanos. Descobriu que os chapins que vivem nas zonas mais barulhentas da cidade de Leyden emitem uma melodia cuja frequência mínima é mais elevada do que a dos seus semelhantes que povoam os bairros mais calmos. Quando estudou as populações de chapins-reais de dez cidades europeias, entre elas Londres, Paris e Amesterdão, Slabbekoorn apercebeu-se de que as melodias de todos os espécimes eram mais agudas do que as dos seus congéneres que tinham escolhido viver nas florestas e que a frequência do seu canto se elevava a cerca de 3200 hertz, ou seja, mais 200 hertz, em média. Os chapins-reais das cidades não só cantam numa gama d notas mais elevada como abandonaram os refrães tradicionais dos seus semelhantes das florestas., optando por refrães mais originais.

Esta capacidade de modificar as melodias é um trunfo valioso para enfrentar o burburinho crescente das cidades. Ao contrário de algumas aves, que aprendem todo o repertório no ninho, os chapins-reais e os tentilhões cantores, entre outros, alteram regularmente o seu canto ao longo da vida. Possuem um registo bastante mais rico do que o necessário e escolhem as suas melodias em função do contexto. Ao avaliarem qual o canto melhor adaptado a uma situação específica, os indivíduos podem servir-se da sua experiência e adaptar-se às mudanças de conjuntura.

Estas novas estratégias, cuja eficácia não deixa dúvidas, podem ser transmitidas aos jovens, que aprendem a cantar ouvindo os seus vizinhos mais experientes. Ou então os cantos podem ser melhor adaptados por defeito: se não conseguem ouvir as sequências de baia frequência emitidas pelos mais velhos, os pássaros jovens nunca aprenderão as melodias que incluem notas baixas, o que poderá diferenciar o seu canto dos repertórios locais.

EXCERTOS REVISTA
NEW SCIENTIST LONDRES
AUTOR ED YONG
DE MAR./08

JC